domingo, 5 de abril de 2009

Encomendação das Almas no Nordeste Transmontano

A “ encomendação das almas”, é a tradição que se mantém até aos nossos dias.
Durante a Quaresma, já noite cerrada, à luz de velas ou lanternas de azeite, grupos de homens encapotados e mulheres com os seus xailes pretos tradicionais, pela cabeça, reuniam-se no adro e em locais específicos da aldeia. Aí entoavam, em coro, com tom dolente e triste, e cheio de angústia, cânticos em memória das benditas almas do Purgatório.

Este é um dos cânticos da “encomendação ” :
À porta das almas santas
Bate Deus a toda a hora.
As almas lhe responderam
Ó meu Deus, que queres agora?

Quero que deixeis o mundo
E que venhais para a glória
Em companhia dos anjos

E da Virgem Nossa Senhora.
Quem quiser dar esmolas aos pobres,
Não precisa de ter riqueza,
Dai das vossas migalhinhas
Que sobram da vossa mesa.

Quem quiser dar esmola aos pobres,
Reparai bem como a dais.
Dai-a com a mão direita
Por alma dos vossos pais.

Santa Teresa de Jesus,
Menina de cinco anos,
Meteu cartas ao correio
Este mundo é de enganos.

Santa Teresa de Jesus
Foi ao inferno em vida,
Veio toda admirada
De ver tanta alma penada.










Encomendação das Almas no Nordeste Transmontano

Produção e realização de Leonel Brito, texto de Rogério Rodrigues e participação especial do Padre Rebelo.

terça-feira, 31 de março de 2009

Sete passos


“Sete Passos” pelas ruas de Freixo

Em tempo de Quaresma, a vila de Freixo de Espada à Cinta continua a manter viva a tradição da procissão dos “Sete Passos”.
O ritual, único em todo o País, tem uma organização que passa de pais para filhos, não havendo espaço para a entrada de pessoas estranhas.
Quando o relógio da Torre Heptagonal, assinala o primeiro batimento das 12 badaladas, altura em que a iluminação pública da vila se apaga, ficando todo o percurso escuro como o breu.
Dá-se então início à procissão que vai percorrer as principais ruas da localidade, que são escolhidas ao acaso, para ver passar o ritual de Encomendação da Almas. O percurso tem início junto à porta principal da Igreja Matriz e demora cerca duas horas.
O grupo coral que acompanha a procissão entoa um cântico dolente e penetrante, cantado em português e latim, apenas junto a igrejas e encruzilhadas.
A figura principal de toda a procissão é a velhinha, “uma personagem vestida de negro, que percorre todo o trajecto curvada, com “cajado” na mão e com uma lanterna alimentada a azeite na outra. Outro dos elementos em destaque neste ritual é uma bota com vinho, que significa o sangue de Cristo derramado.

Sons das peças de ferro, presas à perna de duas pessoas tornam a via-sacra ainda mais penitente

Há períodos na procissão em que as pessoas se aproximam da velhinha com humildade, em sinal de penitência, que dá de beber, apenas, a quem demonstra mais respeito e arrependimento. A identidade de quem encarna tal personagem é sempre motivo de curiosidade, já que não é fácil saber de quem se trata.
Quanto à designação “Sete Passos” é entendida como o compasso, visto que toda a procissão é efectuada ao ritmo de um compasso de sete passos, bem medidos e compassados.
Os sons das peças de ferro, presas à perna de duas pessoas, que são arrastadas ao longo do trajecto tornam a via-sacra ainda mais penitente.
A última noite dos “Sete Passos” é a mais esperada por todos os freixenistas, já que nas anteriores seis sextas-feiras todas as personagens que compõem a procissão são masculinas. Na Sexta-feira Santa junta-se às restantes personagens um grupo de mulheres, conhecidas pelas três Marias.
Esta procissão é encarada com respeito, arrependimento e penitência.
Por: Francisco Pinto

domingo, 1 de março de 2009

À Descoberta das amendoeiras em Flor


O tema das Amendoeiras em Flor é transversal a uma série de concelhos. Guardo com carinho a 1.ª edição do Guia Turístico “Rota da Amendoeira” editado em 2001, referente a Alfândega da Fé, Carrazeda de Ansiães, Freixo de Espada à Cinta, Miranda do Douro, Mogadouro, Torre de Moncorvo, Vila Flor e Vila Nova de Foz Côa. Conhecedor mais ou menos profundo destes concelhos, não necessito de um Guia Turístico, mas mostra a vontade que estes concelhos têm em venderem uma imagem, a Amendoeira em Flor. Vivi em Torre de Moncorvo nos anos áureos das excursões. Eram dezenas, senão centenas de autocarros que se amontoavam na Corredoura (antes do arranjo urbanístico).
Este ano decidi “criar” um Rota da Amendoeira em Flor, para um passeio de família. Visitar locais onde não passávamos há mais de 10 anos, outros onde nunca tínhamos ido, apreciar a paisagem, o artesanato, a gastronomia, mas, sobretudo, ir ao encontro da beleza das amendoeiras em flor, foi o objectivo. Decidi publicar o percurso porque pode dar ideias a outras pessoas que querem beneficiar do privilégio de passar um dia de puro prazer nas pequenas estradas de Trás-os-Montes.
Saímos de Vila Flor ao início da manhã. O dia não estava nada daquilo que eu desejaria (para a fotografia) com o céu repleto de nuvens. Uma atmosfera muito, muito cinzenta, mas com uma temperatura muito agradável.
As amendoeiras em flor apareceram logo dentro da vila. Ao longo da estrada que conduz a Sampaio (N608) há algumas flores que já perderam as pétalas, mas o espectáculo ainda é digno de se ver. Ao longo da N102 (E802) entre Sampaio e a barragem do Pocinho, encontram-se vários locais com muitas amendoeiras em flor. Um bom exemplo são as encostas na Quinta da Portela, mas há amendoeiras por todo o lado.
De junto das comportas da barragem do Pocinho, na margem direita, parte uma estreita estrada que faz a ligação às aldeias de Urros e Peredos dos Castelhanos. Conheci essa estrada há quase duas décadas, quando ainda nem sequer estava asfaltada! Desde essa altura, pouco mudou. Durante algum tempo as curvas acompanham o rio, serpenteando nas entranhas da terra. A foz da Ribeira do Arroio veio separar-nos definitivamente do rio. Depois de a atravessarmos, numa estreita ponte (que assustadora era!), começámos a subir até perto dos 600 metros de altitude. Nesta zona há muitas amendoeiras em flor, mas a maior parte dos delas estão abandonadas. É uma das estradas panorâmicas mais bonitas que conheço no concelho de Torre de Moncorvo. Encontrámos no seu final a N603. Pode ser uma boa oportunidade para virar à direita e fazer uma rápida visita a Peredo dos Castelhanos. À esquerda é a direcção de Urros. Foi nesta zona que encontrei as mais bonitas amendoeiras em flor! Quase todas as flores são de um rosa acentuado, dão uma tonalidade forte e uniforme ao amendoal.
Para saborear toda a paz que nos invade, depois de algumas horas por locais tão pouco frequentados, alguns minutos junto à igreja de S. Apolinário dão também alguma mística ao passeio. Nesta espécie de santuário a algumas centenas de metros do povoado, fomos encontrar uma fonte. A água desta fonte era apontada como sendo milagrosa (1726), mas, actualmente, apenas é vista como digestiva. Foi o próprio S. Apolinário que fez brotar a água da rocha, para saciar a sede com que vinha, depois de atravessar o Douro. Muito havia para ver em Urros, mas partimos em direcção à Barragem das Olgas, ainda em construção, local onde se confrontam o concelho de Torre de Moncorvo e Freixo de Espada à Cinta. Deixámos a N630 e seguimos à direita para Ligares. Atravessámos a aldeia pela Rua do Cimo do Povo, contornámos a igreja e seguimos para o Largo de S. Cruz.
Retomámos a estrada N325 que desce a encosta até à Ribeira do Mosteiro. Neste trajecto ainda há muitas amendoeiras que não floriram, o que significa que este percurso se vai manter bonito por mais alguns dias. Mais uma vez se vislumbram largas encostas onde a amendoeira já foi rainha. O abandono é a nota predominante, mas, onde as amendoeiras estão cuidadas, as flores são mais fartas e mais coloridas.
Depois das Quintas da Ribeira e de S. Tiago, a estrada divide-se: em frente desce-se pela N325 até Barca de Alva; à esquerda sobe-se pela N325-1 até Freixo de Espada à Cinta. O meu desejo era seguir em frente, pois adoro percorrer esta estrada onde nos sentimos muito pequenos face à agressividade das massas rochosas que nos rodeiam. Da foz da Ribeira do Mosteiro até Freixo, é bem possível que ainda haja muitas amendoeiras em flor (ao longo da N221).
A opção foi virar à esquerda em direcção a Freixo. O “relógio” solar (e não só), já nos indicava que estava na hora de almoço.
Nesta zona também há muitas amendoeiras em flor. Até uma pequena raposa se passeava entre elas, indiferente aos potenciais flashes dos turistas.
Em Freixo, estacionámos o carro junto da Câmara Municipal. O recinto da feira era um pouco distante, mas havia um autocarro a transportar gratuitamente os que o desejassem. Estávamos dispostos a almoçar na feira (Feira Transfronteiriça/Feira dos Gostos e Saberes), até porque se tratava de uma feira de sabores. Procurámos o pavilhão de restauração, onde havia poucos lugares vazios. O primeiro contacto foi decepcionante e a refeição tornou-se um fiasco. Procurávamos comer alguma coisa regional, mas as opções eram poucas: leitão e picanha. O vinho tinha que ser obrigatoriamente do Alentejo! O leitão não se conseguia comer, estava cru; as batatas fritas eram de pacote e o pão só chegou depois de muita insistência. “Matei” a fome com alguns feijões pretos gentilmente cedidos e partilhados com a mesa ao lado. Manifestei o meu descontentamento e pedi uma factura (que obviamente não me foi passada). A organização da feira devia estar atenta ao péssimo serviço que esta empresa estava ali a prestar. Além de que deviam apostar em servir os produtos regionais tais como as azeitonas, o fumeiro e o vinho. Esta lacuna também se nota na feita TerraFlor, em Vila Flor.
Não ficámos muito bem dispostos e demorámos pouco na feira. Apesar de tudo, é interessante a aposta no lado de lá da fronteira (ou eles no lado de cá?). O espaço envolvente está muito bem estruturado e o pavilhão da feira mostra coisas interessantes. Afinal ali estavam os verdadeiros sabores, só que já era demasiado tarde!
A viagem continuou em direcção a norte (pela N221); o objectivo era visitar Mazouco. Neste troço quase não existem amendoeiras, a não ser à saída de Freixo até à Zona Industrial.
As gravuras rupestres de Mazouco nunca tinham sido visitadas por qualquer um de nós e, pela sua importância na arte do Paleolítico Superior, em Portugal e na Europa, merecem bem uma visita. As amendoeiras partilham com as oliveiras e laranjeiras, os socalcos entre Mazouco e o rio Douro. Para além da discussão carvalo-carneiro, a beleza da paisagem e a admiração de arte milenar, são um bom convite para uma outra rota À Descoberta das amendoeiras em Foz Côa e da arte do Vale do Côa.
No caminho de regresso, nas últimas casas de Mazouco virámos à direita, seguindo uma estrada (620) que nos coloca num belo miradouro sobre o Douro. Infelizmente as condições atmosféricas já não eram as melhores.
Seguimos à direita (de novo na N221) até à Estação de Freixo e depois à esquerda em direcção a Torre de Moncorvo. Neste troço da estrada até ao Carvalhal ainda há poucas amendoeiras em flor. Entrámos em Carviçais à procura de mais alguns Detalhes em Ferro.
Como não havia muitas amendoeiras com flor, fizemos uma visita ao bar na estação, no Larinho. É um bom espaço para tomar um refresco, ao fim da tarde.
Regressámos à estrada em direcção a Moncorvo. A XXIII Feira de Artesanato está prestes a encerrar. São já 23 feiras e eu visitei grande parte delas. Algumas das presenças são sempre interessantes de observar e saborear como os quadros feitos com escamas de peixe ou casca de alho e as tradicionais amêndoas de Torre de Moncorvo, outras já pouco dizem.
A viagem de regresso a Vila Flor é feita pela N325 até à ponte sobre o Sabor. Depois de se entrar no concelho de Vila Flor, depois da Junqueira, utiliza-se a N215, cheia de curvas mas com boas vistas panorâmicas. Estas são estradas a evitar no dia-a-dia, mas são as ideais para um calmo passeio, em busca de belas Amendoeiras em Flor.

Outras fotografias deste percurso:

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Uma familia colorida, em Freixo


As cores das camisolas são mesmo as reais, aos resto da fotografia é que foi tirada a cor!

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Pela calçada de Alpajares 1





Passeio na calçada de Alpajares, no dia 23 de Setembro de 2008.
Fotografias gentilmente cedidas por Nelson Rebanda

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Guerra Junqueiro 1850-1923

É o mais típico representante da chamada Escola Nova. Poeta panfletário, as suas poesias ajudaram a criar o ambiente revolucionário que conduzirá à República. Talvez o poeta mais popular da sua época, embora hoje se lhe reconheçam contradições e efeitos fáceis. Mas não deve esquecer-se o que há de original e poderoso na sua obra: o extraordinário sentido de caricatura, uma capacidade quase primitiva de exprimir as ideias em símbolos vivos e, ainda, a riqueza verbal e de imagens com que contribuiu para a renovação do verso português.

Não é fácil falar de Guerra Junqueiro. Não porque dele não haja que dizer, mas, ao contrário, porque dele há muito que dizer.

Têm sido variadas as considerações que se têm tecido a seu respeito, da sua vida quanto da sua obra, em verso principalmente. Talvez isto se deva a circunstâncias muito reais: de carácter pessoal, uma, a riqueza da sua personalidade aliada à grandeza da sua poesia; de carácter circunstancial, outra, a época em que viveu, com toda a sortida gama das suas variantes.

Às vezes, nós não somos só nós, mas nós e as nossas circunstâncias, nós e a época em que vivemos. Junqueiro entusiasmou-se com a época em que viveu, assumiu-a em pleno e com ela se identificou.

Balzac dizia que « é um sinal de mediocridade ser-se incapaz de entusiasmo ». Junqueiro não queria ser medíocre. « com jamais se faz algo de grande sem entusiasmo », no dizer Emerson, Junqueiro vive os problemas que o rodeiam, envolve-se neles e luta.

Assim terá sido a vida de Guerra Junqueiro.

Com as todas dificuldades que o assunto comporta, falemos de Guerra Junqueiro: do homem, do grande poeta que foi, de infatigável e acérrimo lutador político, do «« ateu » sui generis », fixando-nos, de preferência, sobre a sua faceta religiosa, por ventura, uma das mais apontadas e discutidas características junqueirianas, dado o acentuando tom de anticlericalismo da época em que viveu.

Em 1850, numa pacata vila de Trás-os-Montes, Freixo de Espada à Cinta, sobranceira ao rio douro, com Espanha a acenar-lhe, em frente, nasceu Abílio Guerra Junqueiro. Diga-se, de passagem, que seus pais o educaram religiosamente, o que, muito naturalmente e até sem se dar conta, por ventura, havia de condicionar e até determinar uma boa parte da sua obra poética.

Aos 16 anos, matriculou-se na faculdade de Teologia, na universidade de Coimbra. Pensaria, então, Abílio Guerra Junqueiro ser um padre de Igreja Católica.

Desistindo deste curso, matriculou-se, uns dois anos depois, em direito, vindo a concluir a sua licenciatura, em 1873.

Inicia Guerra Junqueiro a sua Carreira literária, duma maneira altamente promissora, em « folha », jornal literário, da direcção de João Penha. Aqui cria óptimas relações de amizade com alguns dos melhores escritores e poetas do seu tempo.( ... )

Foi em Lisboa, na madrugada de 7 de Julho de 1923.

Na véspera, haviam chamado o Santo padre Cruz para lhe ministrar os últimos sacramentos da igreja católica, pois, segundo pedido do próprio Guerra Junqueiro, antes queria um Santo que um Teólogo. O padre Cruz já não chegara a tempo.

Guerra Junqueiro foi um grande poeta e um grande peregrino.

Obras Principais

Pátria
Finis Patrie
Musa em Férias
Os Simples
A Velhice do Padre Eterno
Horas de Combate
A Morte de D. João

Fonte: BragançaNet

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

O meu concelho


Ó Freixo de Espada à Cinta tu estás sempre alerta
E mostras-te a nu, a quem por ti passa
Do Douro à serra e na hora certa
Desde a Barca D'Alva até Lagoaça.

E quem é que não gosta da tua imagem
E da linda paisagem, que tens a teus pés
E o Rio Douro que parece um espelho
E banha o Concelho desde lés a lés.

E quem não conhece as tuas amendoeiras
Que alegram o Mundo, quando estão em flor
E dos grandes pomares que tens de laranjeiras
Vinhedos e oliveiras que há em teu redor.

E como agora já quase não há fronteiras
Portugal e Espanha já livres de perigos
E em dias de festas, domingos e feiras
Todos se visitam, como bons amigos.

Peço a quem me escuta para visitar
O nosso concelho, não andem à toa
Tenho a certeza que vão adorar
E que vão gostar desta gente boa.

Deixai que vos fale este pobre velho
Quero-vos deixar versos como adornos
E erguer bem alto sempre o meu Concelho
Porque amo Freixo, Mazouco e Fomos.

Poema de António Páscoa, do livro "Cores na Escuridão", 2003.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Passeio a Freixo - 3.ª Parte

Depois de descrever o fantástico percurso da Ribeira do Mosteiro, o passeio pela vila Freixo de Espada a Cinta, falta-me ainda falar da visita ao Penedo Durão e à Congida, para concluir um dia em cheio À Descoberta.
Já passava das cinco da tarde quando partimos em direcção ao Penedo Durão. Eu recordo bem a vista magnífica que daí se tem! Creio que a última vez que ali estive foi num passeio escolar, com algumas dezenas de alunos.
Lá no alto, a 700 metros de altitude, mesmo com um sol abrasador, estava-se relativamente bem, porque havia algum ar em movimento. Não havia ninguém a admirar a paisagem, mas nós fizemos questão de aí permanecer por bastante tempo.

O local está bem cuidado, com muitas mesas e bancos a convidarem a um bom lanche, com a erva cortada recentemente e até existem alguns divertimentos para as crianças, num mini-parque infantil. Fui surpreendido pela existência de uma enorme imagem de Nossa senhora, segurando o Menino, é Nossa Senhora do Douro, que ali foi colocada em 2002.
É interessante, visto do Penedo Durão, tudo parece pequeno! Até o rio, aprisionado na barragem, parece uma estreita fita azul que se esconde por entre as arribas por Mazouco, Lagoaça, Bemposta, Picote, e, finalmente, Miranda do Douro, que tão bem conheço. Quase me imagino do São João das Arribas, em Aldeia Nova, a olhar o rio, que calmamente desliza em direcção ao poente.
Um outro motivo de interesse do miradouro do Penedo Durão é a possibilidade de se observarem aves, difíceis de encontrar noutros locais e que estiveram na base da criação do Parque Natural do Douro Internacional. Duas delas são o grifo ou abutre (Gyps fulvus) e o abutre-do-Egipto (Neophron percnopterus) espécie migradora, que serve de símbolo do PNDI. Com alguma dificuldade consegui ver alguns exemplares destas duas espécies, pausados nos rochedos, a grande distância de nós. A maior parte dos abutres voava muito alto, em voo planado, tão longe que mais pareciam andorinhas. Seguramente que não era o dia certo para fotografar os abutres. Há muita gente que visita estas paragens exclusivamente para fotografar estas aves.

Com muita pena de não conseguirmos avistar os abutres de perto, partimos para a Congida. Junto ao rio a temperatura era mais agradável. Gozámos uns momentos de tranquilidade bebendo alguma coisa no bar e comendo um gelado. A maior parte dos frequentadores da piscina já a deviam ter abandonado, mas restava um pequeno grupo que queria aproveitar a tarde até ao fim. Havia bastantes pessoas no local! Uns passeando, andando de barco, outros, respirava-se a humidade do rio e a frescura das folhas das árvores, que tornam este lugar o paraíso de Freixo.
Foi com pena que deixámos o local. Subimos a Freixo, que atravessámos, saindo pela estrada N221 em direcção à Estação de Freixo. Satisfeitos com o passeio, apenas nos lamentámos do que gostaríamos de ter visto e não foi possível: a igreja matriz, a igreja da Misericórdia, a Torre do Galo, a capelinha de Nossa Senhora dos Montes Ermos, o “cavalo” de Mazouco,… tantas e tantas razões para voltarmos a Freixo, numa próxima oportunidade. Até lá, restam-nos um bom conjunto de fotografias para recordar e mostrar. O lema publicitário do município de Freixo faz todo o sentido, “apaixone-se”.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Pelas ruas de Freixo

Continuação da visita à Ribeira do Mosteiro


O almoço foi num restaurante na Avenida Guerra Junqueiro. Pedi um bacalhau e vinho branco, de Freixo e os rapazes quiseram lombinhos. Ainda não foi desta que gostei de uma refeição em Freixo. Por mais que me custe, tenho de admitir que já são alguns desaires. Não me considero exigente, antes pelo contrário, mas dou mais importância ao sabor do que ao número de copos sobre a mesa. Aproveitou-se o vinho, que me soube muito bem.
Dirigimo-nos para junto da igreja Matriz, onde iria começar o nosso passeio pela vila. A igreja estava fechada, a eucaristia tinha sido de manhã, ninguém a foi abrir, durante toda a tarde! Foi pena, é bela, monumento nacional e nunca a visitei. A Torre do Galo também estava fechada! Bem, eu não perdi tempo para me embrenhar pelas ruas mostrando aos meus filhos as janelas e outros elementos de estilo manuelino de que lhes fui falando pelo caminho, também como forma de justificar a importância de Freixo como a Vila Mais Manuelina de Portugal. Todos se interessaram na procura da janela “mais bonita”. Seguimos pela Rua das Eiras, demos uma atenção especial à Igreja da Misericórdia, também fechada e saltámos de rua em rua, com especial destaque para a Rua do Vale, Rua da Cadeia, Rua da Fonte Seca e Rua do Depósito.

De volta ao Largo da Igreja encontrámos um grupo de algumas dezenas de pessoas da Matela, freguesia do concelho de Vimioso, com algumas pessoas conhecidas. Tivemos direito a uma música especial, tocada no bombo e na gaita-de-foles. Como a igreja continuava fechada, seguimos para a Avenida Guerra Junqueiro, mesmo em frente à Câmara Municipal onde admirámos a lindíssimo pelourinho manuelino.
O posto de turismo é ali próximo. Fizemos-lhe uma visita e fomos recebidos com toda a amabilidade. Recebemos gratuitamente um conjunto de folhetos promocionais, do turismo no concelho e a agenda cultural para o Verão. Aproveitei para comprar quatro livros relacionados com Freixo, ou de autores freixenistas, que me vão dar uma boa ajuda nesta tarefa de Descoberta de Freixo de Espada à Cinta. Aproveitámos para beber água, estava fresca e era grátis!

Voltámos à parte mais antiga da vila para visitarmos a Casa Junqueiro e o Museu da Seda. Na Casa Junqueiro sentimo-nos em casa. Muitos dos artefactos expostos ainda fizeram parte de algumas das nossas vivências e somos profundos apreciadores da etnografia. Para os mais novos foi uma viagem a um passado completamente desconhecido, onde não havia ecrãs.
Na Sede da Associação do Artesanato, visitámos algumas salas sobre a seda. Não pudemos ver os bichos-da-seda mas saiu-nos um casulo na rifa, para recordação. Os trabalhos expostos são magníficos, mostrando todo o vigor que a seda tem nesta Associação. Também na produção da seda, Freixo, ocupa um lugar de destaque no panorama nacional.

Terminado o “circuito cultural”, foi com dificuldade que conseguimos retirar o nosso carro do Largo da Igreja. As ruas estavam cortadas ao trânsito e o largo parecia um inferno de cabos e câmaras. Já se ensaiava para o programa do dia seguinte, Verão Total.
Nós partimos para locais mais tranquilos, continuando À Descoberta de Freixo.

Continua...

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Na Ribeira do Mosteiro

13-07-2008 Este Blogue chama-se À Descoberta, e, tal como todos os restantes da mesma série, exigem uma acção, a acção de descobrir, de destapar, de mostrar, ainda que sob determinado olhar, neste caso, o concelho de Freixo de Espada à Cinta. Foi com esse espírito que “desafiei” a família para uma visita ao concelho.
Planeei um passeio de encontro a muitas recordações, visitando locais que vivemos há muitos anos atrás. Em traços largos, entraríamos no concelho por Ligares, desceríamos a Estrada do Candedo até ao Rio Douro, seguiríamos até Freixo de Espada à Cinta para almoçar. De tarde, visitaríamos a vila, faríamos um passeio ao Penedo Durão e terminaríamos a tarde na praia fluvial da Congida. Sairíamos da vila em direcção à Estação de Freixo. Este percurso era ambicioso, mas parece-me bastante indicado para quem quer conhecer o concelho.
Desde que deixámos Torre de Moncorvo, tudo nos parecia familiar! Até parecia que não tinham passado 14 anos, desde que fizemos este percurso pela última vez!
Chegámos a Ligares rapidamente. Fizemos uma curta paragem no largo, junto à Capela de Santa Cruz, admirando a antiga aldeia. São visíveis bastantes melhoramentos, é uma grande aldeia que valerá bem uma visita, numa outra oportunidade.

Ao longo da estrada N325 conhecida pela Estrada do Candedo surpreendeu-me a nudez dos montes. A Primavera já se reduziu a cores de palha, intercalando com alguns olivais ou amendoais abandonados.
Quando chegámos junto da Ribeira do Mosteiro, abrandámos a marcha. Esta paisagem é para ser admirada com calma, com tanta calma que me apetecia abandonar o automóvel e perder-me pelos montes, admirando cada vale, cada formação rochosa.
Tentei recuperar da memória todo o conhecimento de uma série de ciências terminadas em “gia” ou “fia”, mas faltavam-me as palavras para chamar às coisas pelos nomes. No entanto, penso que consegui interessar os pequenos, chamando-lhes a atenção para os dobramentos nas rochas quartzíticas. As rochas duríssimas apresentam dobras que parecem ter sido feitas com a mesma facilidade com que se torce a massa de fazer o pão.
O imaginário começou a funcionar quando avistámos a ponte sobre a ribeira, que se prolongava encosta acima levando, algures, a locais repletos de mistérios rupestres e medievais. Recordo-me de ter subido um troço dessa calçada, há quase vinte anos.

Esta calçada, conhecida por Calçada de Alpajares, é um percurso pedestre a não perder, para os amantes da história e da natureza. É um bom desafio para partir À Descoberta.
Um ponto de paragem obrigatória são as Alminhas de Candedo. Neste local há muita informação sobre a fauna, a flora, geologia e percursos. É um local único, que pouco tem a ver com a paisagem do Nordeste trasmontano. Parece que se viaja atrás no tempo, sentindo-nos pequenos, como que esmagados pelas montanhas circundantes, talvez construidas por ciclopes, onde Polifemo se esconde e nos vigia. As alminhas afastam a imaginação dos deuses pagãos, lembrando-nos que Jesus, o mesmo que ali está crucificado, moldou a face da terra, mas, no cansaço do sétimo dia, não conseguiu organizar o xisto, o quartzo e o granito que aqui, no Muro de Abalona, ainda esperam há milhões de anos pelo seu espaço.
Vêem-se pequenos pontos contra o azul dos céus. São aves muito grandes mas que voam a muita altitude. Possivelmente são grifos, também eles animais míticos. Esta visão lembrou-me que ainda havia muito caminho para percorrer.

Descemos lentamente até à estrada N221 e seguimos em direcção a Freixo. Apenas fizemos uma paragem mesmo por baixo do Penedo Durão, para admirarmos a paisagem em redor, o próprio Penedo Durão, sobre as nossas cabeças, o Salto de Saucelle e as formações graníticas do outro lado do Douro.
Era perto da uma da tarde, hora de almoçar, em Freixo.

O passeio continua...

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Freixo de Espada à Cinta na RTP1


Hoje é um dia de grande promoção da vila de Freixo de Espada à Cinta, com a transmissão directamente da vila, do programa Verão Total (RTP1), apresentado por Sónia Araújo e João Baião.
Também eu pretendo fazer promoção. Deixo um "papel de parede" bastante representativo da vila de Freixo de Espada à Cinta, captada por mim, ontem, antes de chegar todo o aparato da TV!

domingo, 13 de julho de 2008

Ode ao Douro (I) - Congida


Congida

I
Sobre o arado das águas, sulcando teu leito bordado de virgindade, defendida por castelos e gigantes de granito, que só os grifos, em seu planar circular, sabem da altura, voo.

II
Acima dos lábios das margens, teu púbis é um bosque de lodões, que o sobreiral e o fragaredo continuam arribas acima.
Rente à tremura da água, esvoaçam garças-reais, depenicando-a, de longe em longe.
No morro, o abutre-do-egipto, embalsamado de hirteza, espreita a morte, qual Osíris a chegada de um mortal para lhe pesar a alma.

III
Aqui mora o princípio: para além da guerra e da paz e dos pombais da Civilização, as boas selvagens pombas das fragas, acima do simbolismo de suas irmãs civilizadas, despegam, em voo assustado, do seu inacessível fragoso reduto, voltado para o meio-dia.

IV
De regresso ao cais, a chuva vem ao meu encontro, trazendo-me a lembrança das águas primordiais, nascentes diluvianas que fizeram mares.

V
Dei o óbolo ao barqueiro, que me trouxe à vida, naturado, limpo e ressuscitado. A Civilização é um pecado, que a Natureza dificilmente nos irá perdoar.



Do livro "Ode ao Douro", de António Manuel Caldeira Azevedo.
Lello Editores, 2007.

Fotografias da Congida, 13 de Julho de 2008.