quinta-feira, 17 de julho de 2008

Na Ribeira do Mosteiro

13-07-2008 Este Blogue chama-se À Descoberta, e, tal como todos os restantes da mesma série, exigem uma acção, a acção de descobrir, de destapar, de mostrar, ainda que sob determinado olhar, neste caso, o concelho de Freixo de Espada à Cinta. Foi com esse espírito que “desafiei” a família para uma visita ao concelho.
Planeei um passeio de encontro a muitas recordações, visitando locais que vivemos há muitos anos atrás. Em traços largos, entraríamos no concelho por Ligares, desceríamos a Estrada do Candedo até ao Rio Douro, seguiríamos até Freixo de Espada à Cinta para almoçar. De tarde, visitaríamos a vila, faríamos um passeio ao Penedo Durão e terminaríamos a tarde na praia fluvial da Congida. Sairíamos da vila em direcção à Estação de Freixo. Este percurso era ambicioso, mas parece-me bastante indicado para quem quer conhecer o concelho.
Desde que deixámos Torre de Moncorvo, tudo nos parecia familiar! Até parecia que não tinham passado 14 anos, desde que fizemos este percurso pela última vez!
Chegámos a Ligares rapidamente. Fizemos uma curta paragem no largo, junto à Capela de Santa Cruz, admirando a antiga aldeia. São visíveis bastantes melhoramentos, é uma grande aldeia que valerá bem uma visita, numa outra oportunidade.

Ao longo da estrada N325 conhecida pela Estrada do Candedo surpreendeu-me a nudez dos montes. A Primavera já se reduziu a cores de palha, intercalando com alguns olivais ou amendoais abandonados.
Quando chegámos junto da Ribeira do Mosteiro, abrandámos a marcha. Esta paisagem é para ser admirada com calma, com tanta calma que me apetecia abandonar o automóvel e perder-me pelos montes, admirando cada vale, cada formação rochosa.
Tentei recuperar da memória todo o conhecimento de uma série de ciências terminadas em “gia” ou “fia”, mas faltavam-me as palavras para chamar às coisas pelos nomes. No entanto, penso que consegui interessar os pequenos, chamando-lhes a atenção para os dobramentos nas rochas quartzíticas. As rochas duríssimas apresentam dobras que parecem ter sido feitas com a mesma facilidade com que se torce a massa de fazer o pão.
O imaginário começou a funcionar quando avistámos a ponte sobre a ribeira, que se prolongava encosta acima levando, algures, a locais repletos de mistérios rupestres e medievais. Recordo-me de ter subido um troço dessa calçada, há quase vinte anos.

Esta calçada, conhecida por Calçada de Alpajares, é um percurso pedestre a não perder, para os amantes da história e da natureza. É um bom desafio para partir À Descoberta.
Um ponto de paragem obrigatória são as Alminhas de Candedo. Neste local há muita informação sobre a fauna, a flora, geologia e percursos. É um local único, que pouco tem a ver com a paisagem do Nordeste trasmontano. Parece que se viaja atrás no tempo, sentindo-nos pequenos, como que esmagados pelas montanhas circundantes, talvez construidas por ciclopes, onde Polifemo se esconde e nos vigia. As alminhas afastam a imaginação dos deuses pagãos, lembrando-nos que Jesus, o mesmo que ali está crucificado, moldou a face da terra, mas, no cansaço do sétimo dia, não conseguiu organizar o xisto, o quartzo e o granito que aqui, no Muro de Abalona, ainda esperam há milhões de anos pelo seu espaço.
Vêem-se pequenos pontos contra o azul dos céus. São aves muito grandes mas que voam a muita altitude. Possivelmente são grifos, também eles animais míticos. Esta visão lembrou-me que ainda havia muito caminho para percorrer.

Descemos lentamente até à estrada N221 e seguimos em direcção a Freixo. Apenas fizemos uma paragem mesmo por baixo do Penedo Durão, para admirarmos a paisagem em redor, o próprio Penedo Durão, sobre as nossas cabeças, o Salto de Saucelle e as formações graníticas do outro lado do Douro.
Era perto da uma da tarde, hora de almoçar, em Freixo.

O passeio continua...

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